quinta-feira, 13 de abril de 2023

TCC: A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO.

O

A INFLUÊNCIA DA CULTURA AFRICANA NA FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO







FONSECA, Nilson da cruz. A influência da cultura africana na formação do povo brasileiro. 2011. 36 páginas. Licenciatura em História. Universidade Norte Do Paraná.


RESUMO

A formação cultural do povo brasileiro foi um longo processo de formação e transformação social de construção e miscigenação, desse modo, tivemos a fusão de três culturas diferentes: o negro africano, o índio brasileiro e o branco europeu, valendo ressaltar que a cultura branca e eurocêntrica predominou sobre as outras duas culturas considerada inferiores. Porem, apesar de existir toda segregação racial e social no Brasil colonial, a mistura de credos e culturas aconteceu quase que naturalmente. De forma que o meio social onde os primeiros colonizadores e escravos índios e negros se encontravam era propicio para uma mistura, as grandes fazendas onde se explorava a mão de obra dos povos dominados. Em suma, a influência cultural do negro africano teve forte influencia na configuração cultural do povo brasileiro. Em síntese, apesar de sermos um país miscigenado, os reflexos do passado colonial ainda persistem em nossa sociedade, dessa forma, o preconceito, a pobreza e a exclusão social de um Brasil desigual e injusto com o seu povo.



Palavras-chaves: Formação cultural – Influência africana – Povo brasileiro – Miscigenação – cultura brasileira – samba – carnaval- sincretismo - cultura- religiosidade.








Este presente trabalho tem como intuito compreender a formação cultural  do povo brasileiro, assim como a influencia cultural africana na formação cultural e  social do Brasil. Esta pesquisa está dividida em dois capítulos, sendo que o primeiro relata a formação cultural do povo brasileiro e a importante influencia do elemento negro em nossa sociedade colonial, bem como as suas respectivas influências na sociedade em geral: costumes, religião, musica, miscigenação e[N1]  etc.
“Diversidade, universalidade, alteridade, etnocentrismo, perspectiva crítica perante a ação colonialista, todas essas ideias se tornaram importantes para as mudanças teóricas e metodológicas que acompanharam as diferentes visões do conceito de cultura que vão sobrepondo”. (CIRINO, P.06, 2008).
 No segundo capitulo, relatamos sobre o preconceito ainda existente em nossa sociedade, sendo este fruto da escravidão. Ressaltamos ainda sobre a singularidade do povo brasileiro, assim como os exemplos e reflexos de resistência social e cultural do povo negro ao longo da história brasileira.
Devido a nossa formação cultural ser multiétnica, a cultura brasileira é repleta de características e protótipos dos povos africanos, portanto, somente observando os nossos costumes, valores, religião e as manifestações culturais é iremos perceber quantas semelhanças que existem entre o povo brasileiro e os povos africanos, todavia, a nação brasileira tem muito mais semelhança com os africanos do que com os portugueses, povo que colonizou esta terra.
“A cultura seria então um todo que abarcava diversos aspectos como língua, costumes, crenças, sistemas simbólicos, classificatórios do mundo e das pessoas, formas de troca, formas padronizadas de comportamento e assim por diante”. (idem, p.10).
Contudo, apesar de sermos uma nação afro descendente, sabemos que o preconceito e a discriminação racial é algo real e institucional, uma vez que o estado não oferece politicas públicas para que haja uma verdadeira inclusão social de todos os brasileiros. Porém, a nossa cultura e o nosso povo tem uma persistência incomensurável, a determinação e a resistência cultural é divisor de aguas nesta pátria tão amada e ao mesmo tempo tão esquecida principalmente pelos governantes. “Segundo Cirino, o homem age de acordo com padrões culturais determinados e não mais a partir de seus instintos, a cultura seria um meio do povo se adaptar aos seus diferentes ambientes ecológicos”. (idem). Sendo assim, os povos vindos da África se adaptaram e construíram uma nova cultura, a cultura do  povo brasileiro.
Esperamos contribuir com este trabalho para melhor conscientizar as pessoas acerca da importância e contribuição da cultura africana na formação do povo brasileiro, em fim, sabemos que apesar das tentativas de segregação racial que houve durante o processo histórico, sabe-se que cinquenta e três por cento da população brasileira se auto declaram negros ou pardos.  Portanto, a mentalidade do brasileiro está mudando, principalmente quando as pessoas passam a aceitar as suas origens étnicas, a autoestima e a identidade de nosso povo crescem e enaltecem a nossa nação brasileira, mostrando que temos valores e princípios tão somente brasileiros com resquícios de vários povos.








Podemos entender por cultura todo o conjunto de manifestações culturais, sociais e religiosas de um povo, a cultura de um povo é difundida pelo seu modo de vida, os seus valores étnicos, morais, religiosos e sociais. Portanto, a cultura de uma nação é configurada ao longo do tempo, desse modo, não se configura uma cultura planejada ou cronometrada, uma vez que a identidade cultural de um povo é um longo processo o qual acontece ao decorrer de varias gerações.

Cultura (do latim colere, que significa cultivar) é um conceito de várias acepções, sendo a mais corrente a definição genérica formulada por E Tylor dward B. , segundo a qual cultura é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento”. as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade. (Dicionario Aurélio, 2009).
                                                                                                    

Todavia, todas as pessoas sejam elas nobres ricas ou pobres, cultas ou analfabetas possuem conhecimentos, valores, princípios e costumes os quais denominamos de cultura. Contudo, uma cultura é construída por influências externas, pelo meio natural, social e religioso, uma vez que tais princípios terão forte relevância na formação cultural de uma nação[N2] . Assim, em uma cultura podemos construir o nosso modo de ser, pensar, viver e se comportar, desse modo, não existe outro item que melhor expresse a identidade de um povo ou nação se não pela cultura.

A cultura de uma sociedade é concebida de forma unitária, homogênea e universal. Acreditar-se existir uma cultura aceita e praticada indiscutivelmente valorizada, que deve ser transmitida na escola, em nome da continuidade cultural da sociedade como um todo. (LOPES apud França, 2010, p.42).

A cultura brasileira, por exemplo, é a alma do nosso povo, uma vez que a expressão cultural reflete aquilo que realmente somos. A expressão cultural é também uma forma de resistência, imposição ou resposta a um sistema ideológico. No Brasil, por exemplo, existe uma diversidade cultural muito grande, afinal a nossa sociedade é uma mesclagem de três elementos diferentes; o negro, o branco e o índio, de modo que tal fusão cultural originou-se uma cultura singular, o povo brasileiro.

Cultura é o resultado dos modos como os diversos grupos humanos foram resolvendo os seus problemas ao longo da história. Cultura é criação. O homem não só recebe a cultura dos seus antepassados como também cria elementos que a renovam. A cultura é um fator de humanização. O homem só se torna homem porque vive no seio de um grupo cultural. A cultura é um sistema de símbolos compartilhados com que se interpreta a realidade e que conferem sentido à vida dos seres humanos. (Dicionario Aurélio, 2011)

Desse modo, a cultura é um valor imaterial[N3]  que deve ser preservado como o mais sublime patrimônio de um povo, tendo em vista que os costumes em geral revela a face de uma sociedade, por via da cultura podemos entender o presente, o passado bem como pressupor o futuro de uma nação, haja vista a força cultural que cada povo tem é sem duvida um forte pilar na estrutura social tendo grande relevância na formação do caráter e do modo de vida de um grupo, uma vez que a existência precede a essência, ou seja, antes de um sujeito ser um ente social e cultural, ele precisa existir para ser transformado e formado culturalmente, em síntese, vir-a-ser. Segundo (LOPES apud França, 2010, p.44). A cultura ela poderá ser padronizada de acordo com interesses elitistas.

Uma sociedade dividida como a nossa, o movimento cultural em função de sua origem de classe, produzindo a fragmentação cultural. A divisão social do trabalho engendra a divisão social do saber e da cultura: há os que têm cultura e os que não têm. Constituem-se assim, em rótulos culturais; cultura popular, cultura erudita, em contrapartida, simultaneamente, existe um processo de homogeneização que busca negar o caráter plural e multifacetado da cultura mascarando tanto o processo de divisão social, quanto a diversidade e as rupturas associadas à cultura.

Portanto, uma estrutura social é entendida como um conjunto de valores, princípios, ideologia e comportamento social que forma a estrutura de um povo. A cultura é algo que flui naturalmente, mas poderá ser algo também imposto ou controlado ideologicamente. Segundo o dicionário Aurélio a cultura é um conjunto de estruturas sociais.

                                    
Conjunto das estruturas sociais, religiosas etc., das manifestações intelectuais, artísticas etc., que caracteriza uma sociedade: a cultura inca; a cultura helenística. Aplicação do espírito a uma coisa: a cultura das ciências. Desenvolvimento das faculdades naturais: a cultura do espírito.  Apuro, elegância: a cultura do estilo. Cultura de massa, conjunto dos fatos ideológicos comuns a um grupo de pessoas considerado fora das distinções de estrutura social, e difundido em seu seio por meio de técnicas industriais.  Cultura física, desenvolvimento racional do corpo por exercícios apropriados. (Dicionario Aurélio, 2011).

O conceito de cultura é bastante complexo. Em uma visão antropológica, podemos defini-lo como rede de significados que dão sentido ao mundo que cinge um indivíduo, ou seja, a sociedade. Essa rede engloba um conjunto de diversos aspectos como: crenças, valores, costumes, leis, moral, línguas e etc.[N4]  Nesse sentido, podemos chegar à conclusão de que é impossível que um indivíduo não tenha cultura, afinal, ninguém nasce e permanece fora de um contexto social, seja ele qual for. Também podemos dizer que considerar uma determinada cultura (a cultura ocidental, por exemplo) como um modelo a ser seguido por todos é uma visão extremamente etnocêntrica, egoísta e absoleta.


Sabemos que a formação étnica do Brasil denominou-se basicamente por três povos diferentes; o branco europeu, o negro africano[N5]  e o índio brasileiro, de modo que para falarmos da formação cultural do nosso povo faz-se necessário conhecer e compreender o passado histórico colonial do Brasil. Geralmente a cultura do dominador é intuitiva no objetivo não só de aspirar benefícios econômicos, mas também de difundir seus valores culturais, sociais, religiosos e ideológicos. Gilberto Freyre afirma que.

Quando, em 1532, se organizou econômica e civilmente a sociedade brasileira, já foi depois de um século inteiro de contato dos portugueses com os trópicos; de demonstrada na Índia e na África sua aptidão para a vida tropical. Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida de índio, e mais tarde de negro, na composição. (FREIRE, 2003, p.172).

Desse modo, os portugueses ao chegarem aqui no Brasil não trouxeram consigo somente o desejo de colonizar a nova terra e tirar proveitos econômicos. Por conseguinte, juntamente com a coroa portuguesa estava a Igreja Católica que almeja evangelizar os nativos e conseqüentemente expandir o cristianismo.  Por isso, Gilberto nos impele a questão religiosa traga pelos europeus para o novo continente como uma ferramenta de imposição cultural e colonial. Pode-se perceber que a intenção da coroa portuguesa de dominar foi algo bastante pragmático. Todavia foi no ambiente agrário do senhor e do escravo que a cultura popular brasileira se configurou.

No Brasil, a catedral ou a igreja mais poderosa que o próprio rei seria substituída pela casa-grande de engenho. Nossa formação social, tanto quanto a portuguesa, fez-se pela solidariedade de ideal ou de fé religiosa, que nos supriu a lassidão de nexo político ou de consciência de raça. Mas a igreja que age na formação brasileira, não é o bispo... Mas é a capela de engenho. (FREYRE, 2003, p.271.).

      Além da mobilidade, o português tinha a capacidade de se misturar facilmente com outras raças. Os homens vinham sem família, sozinhos. Chegavam carentes de contato humano e começavam a se reproduzir primeiro com as índias e depois com as negras escravas. Era preciso povoar o território. No momento em que embarcou na aventura ultramarina, Portugal tinha três milhões de habitantes. O Brasil era imenso; então, como povoar esse território? A solução era miscigenar. Freyre relata o comportamento sexual do brasileiro no Brasil colônia. Todavia, salienta o contato sexual do branco com as negras africanas. Podemos refletir acerca do comportamento extrovertido do nosso povo, a seu apetite sexual exagerado.

Costuma dizer-se que a civilização e a sifilização andam juntas. O Brasil, entretanto, parece ter-se sifilizado antes de se haver civilizado. A contaminação da sífilis em massa ocorreria nas senzalas, mas não que o negro já viesse contaminado. Foram os senhores das casas-grandes que contaminaram as negras das senzalas. Por muito tempo dominou no Brasil a crença de que para um sifilítico não há melhor depurativo que uma negrinha virgem[N6] . (FREYRE, 2003, p.401.).

Os colonizadores precisavam de uma mão de obra barata para colonizar a nova terra, portanto, buscaram negros africanos afinal além de serem aptos ao trabalho gerava muitos lucros para os mercadores. Dessa forma, juntamente com tal ferramenta de trabalho, “os negros”, em cada pessoa escravizada existia uma história, valores, costumes e princípios, desta forma ao chegarem aqui no Brasil os negros incorporaram os seus costumes, ritos e crenças na sociedade brasileira. Tendo em vista que um processo de formação cultural não acontece em uma ou duas décadas, mas é um processo paulatino. Daí salienta Ribeiro.

Nossa matriz africana é a mais abrasileirada delas. Já na primeira geração, o negro, nascido aqui, é um brasileiro. O era antes mesmo de o brasileiro existir, reconhecido e assumido como tal. O era, porque só aqui ele saberia viver, falando como sua língua do amo. Língua que não só difundiu e fixou nas áreas onde mais se concentrou, mas amoldou, fazendo do idioma do Brasil um português falado por bocas negras, o que se constata ouvindo o sotaque de Lisboa e o de Luanda. (RIBEIRO, 1995, p. 14).

     De forma que com o passar do tempo, a cultura brasileira foi se configurando aos poucos sendo inebriada de diferentes elementos multiculturais. Assim diz Darcy Ribeiro que o brasileiro é um povo novo.

Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiça, dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos. Também novo porque se vê a si mesmo e é visto como uma gente nova, um novo gênero humano diferente de quantos existam. Povo novo ainda, porque é um novo modelo de estruturação societária, que inaugura uma forma singular de organização sócio-econômico, fundada num tipo renovado de escravismo e numa servidão continuada ao mercado mundial. Novo, inclusive, pela inverossímil alegria e espantosa vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que alenta e comove a todos os brasileiros. (RIBEIRO, 1996, p. 19)

Os europeus tinham uma visão de supremacia racial, cultural e social em relação ao restante do mundo, tendo em vista que ao chegarem aqui no Brasil não houve relativismo cultural, ao contrario houve uma imposição cultural, a superioridade européia suprimiu as outras culturas existentes, predominando desse modo o modelo ocidental de ser e pensar. Contudo, a influência cultural dos índios que aqui habitavam apesar de serem considerados nativos e selvagens eles tinham uma cultura muito rica de detalhes e valores sociais. Dessa forma, Ribeiro demonstra alguns costumes dos índios incorporados na sociedade.

A função do cunhadismo na sua nova inserção civilizatória foi fazer surgir a numerosa camada de gente mestiça que efetivamente ocupou o Brasil. É crível até que a colonização pudesse ser feita através do desenvolvimento dessa prática. Tinha o defeito, porém, de ser acessível a qualquer europeu desembarcado junto às aldeias indígenas. Isso efetivamente ocorreu, pondo em movimento um número crescente de navios e incorporando a indiada ao sistema mercantil de produção. Para Portugal é que representou uma ameaça, já que estava perdendo sua conquista para armadores franceses, holandeses, ingleses e alemães, cujos navios já sabiam onde buscar sua carga. (, RIBEIRO 1996, p. 82).

Sendo assim, alguns costumes dos nativos foram absolvidos pela cultura lusitana apesar de toda resistência e imposição cultural eurocêntrica.  Todavia, a influência dos índios mudou os rumos da cultura brasileira ao longo do tempo.




Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores[N7]  de escravos seremos sempre servos da marginalidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria. (RIBEIRO 1996, p. 120).

Nas fazendas de cana ou nas minas de ouro (a partir do século XVIII), os escravos eram tratados da pior forma possível. Trabalhavam muito, de quatorze a dezesseis horas, o que se tornou o principal motivo dos escravos fugirem; outro motivo eram os castigos e o outro era porque recebiam apenas trapos de roupa e[N8]  uma alimentação de péssima qualidade (recebiam pouca comida e no máximo duas vezes por dia). Passavam as noites nas senzalas (galpões escuros, úmidos e com pouca higiene) acorrentados para evitar fugas. Eram constantemente castigados fisicamente (quando um escravo se distraía no trabalho ou por outros motivos, eram amarrados em um tronco de árvore e açoitados, as vezes, até perderem os sentidos); torturando-os fisicamente e psicologicamente, os senhores e seus algozes buscavam destruir os valores do negro [N9] e forçá-lo a aceitar a idéia da superioridade da raça branca sendo que o açoite era a punição mais comum no Brasil Colônia.


Conhecem-se casos no Brasil casos não só de predileção, mas de exclusivismo: homens brancos que só gozam com negra[N10] . De rapaz de família importante de Pernambuco conta a tradição que foi impossível aos pais promoverem-lhe o casamento com primas ou outras moças brancas de família igualmente ilustres. Só queria saber de molecas. (FREYRE, 2003, p.271).










Uma das festas mais conhecidas do candomblé brasileiro é a de Iemanjá, orixá feminino considerado a rainha dos mares e oceanos. A comemoração acontece no dia 2 de fevereiro, na Bahia, e na noite de 31 de dezembro, no Rio de Janeiro. Os devotos levam oferendas ao mar, e, segundo a tradição, Iemanjá surge envolta em espuma para recebê-la Nos terreiros, além de chefiar os rituais, os pais-de-santo e as mães-de-santo recebem os fiéis em sessões individuais para revelar o orixá de cada um, tradicionalmente pelo jogo de búzios. A identificação do orixá, ou santo no sincretismo, ajuda o fiel a entender a própria personalidade. Para o fiel, cultuar o Candomblé significa equilibrar suas energias (axés) com as energias de seu orixá.

Buscamos a contribuição de conhecedores da matéria enquanto cultura, candomblé, umbanda, quimbanda, se existem mestres de outras expressões que têm essas práticas. Desse modo, poderemos entender melhor a mentalidade religiosa do brasileiro.


A religião mais perseguida e reprovada na história do Brasil com certeza são as religiões de matriz africana, contudo, o povo negro resistiu e implantou indiretamente na inconsciente coletivo do brasileiro as suas crenças, valores e princípios religiosos. “Assim são Benedito[N12]  se sabe que é, no Brasil desde dias remotos, “santo de negro”, como santo Onofre é santo de pobre”. (FREYRE, 2003, p.503). Assim percebemos que o negro inicia a sua saga rumo ao sincretismo religioso, uma forma de resposta e edificação dos seus costumes, embora exista uma imposição cultural por parte dos portugueses[N13] .

Em 04 de abril de 1755, d. José, rei de Portugal, assina decreto que autoriza a miscigenação de portugueses com índios. "Faço saber aos que este meu Alvará de Lei virem, considerando o quanto convém, que os meus reais domínios da América se povoem e para este fim pode concorrer muito a comunicação com os índios por meio de casamentos", destaca o texto da lei logo no começo.
   





A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista. Ela é que incandescente, ainda hoje, em tanta autoridade brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar os pobres que lhes caem às mãos. (Ribeiro, 1996, p.120.


A individualidade é uma conquista demorada e sofrida, formada de heranças e aquisições culturais, de atitudes aprendidas e inventadas e de formas de agir e de reagir, uma construção que, ao mesmo tempo, é social, emocional e intelectual, mas constitui um patrimônio privado, cujo valor intrínseco não muda a avaliação extrínseca, nem a valoração objetiva da pessoa, diante de outro olhar. No Brasil, onde a cidadania é, geralmente, mutilada, o caso dos negros é emblemático. Os interesses cristalizados, que produziram convicções escravocratas arraigadas, mantêm os estereótipos, que não ficam no limite do simbólico, incidindo sobre os demais aspectos das relações sociais. Na esfera pública, o corpo acaba por ter um peso maior do que o espírito na formação da socialidade e da sociabilidade.(SANTOS apud Mota,2005, p.198).


Redimensionando a abordagem do tema, estes pesquisadores afastaram-se do debate sobre os modos de produção e de grandes interpretações do processo social, para analisar os significados históricos das lutas escravas enfocando o ponto de vista dos cativos e dos libertos. A possibilidade de ser posto à venda, por exemplo, era algo constante na vida de homens e mulheres escravizados. Trocar de senhor podia significar então muitas coisas: com uma venda podiam ser alteradas as condições de vida e de trabalho, laços familiares e amizades. Alianças diversas podiam ser desfeitas, acordos rompidos e conquistas perdidas. Mas os escravos não viviam este processo de forma passiva, como uma simples mercadoria. (MOTA, 2005, p.403).


Há uma frequente indagação sobre como é ser negro em outros lugares, forma de perguntar, também, se isso é diferente de ser negro no Brasil. As peripécias da vida levaram-nos a viver em quatro continentes, Europa, Américas, África e Ásia, serja como quase transeunte, isto é, conferencista, seja como orador, na qualidade de professor e pesquisador. Desse modo, tivemos a experiência de ser negro em diversos países e de constatar algumas das manifestações dos choques culturais correspondentes. Cada uma dessas vivências foi diferente de qualquer outra, e todas elas diversas da própria experiência brasileira.(idem).



             


O que significa ser brasileiro e o que é o Brasil no mundo de hoje? Somos um povo ainda na busca de um destino e uma identidade? Essas são algumas perguntas muito bem questionadas e respondidas na obra prima de Darcy Ribeiro: “O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil”, livro editado pela Companhia das Letras em 1995 em São Paulo. Trata-se da última grande obra deste importante pensador brasileiro. Um trabalho extremamente maduro e realizado com confiança e determinação. Somos um povo que teve sempre suas aspirações jamais levadas em conta em nome dos interesses da prosperidade empresarial exportadora. Um povo que teve como base uma força de trabalho afundada no atraso e na pobreza. Nossos povos tribais sofreram um enorme genocídio e os negros escravos uma das piores condições de vida já existentes. No entanto, surpreendentemente, essa massa de negros, mulatos e caboclos criou a etnia brasileira, um dos povos mais criativos do mundo. (FERREIRA apud Mota, 2005, p.301.)



                A identidade nacional brasileira não é uma só. As suas dimensões política e cultural, em particular, não têm caminhado juntas. Nem remetem a um mesmo espírito, à diferença do que acreditava Gilberto Freyre, para quem a tolerância mútua que reina na área sócio-cultural das relações humanas de via se traduzir, com naturalidade, por igual tolerância na área política: o liberalismo "nosso" não devia nem podia fundamentar-se, como o liberalismo anglo-saxônico, na competição onde ganha o melhor ou mais astuto, mas na conciliação harmoniosa das diferenças. Não é bem assim: existe de fato, no Brasil, uma forma política da conciliação, mas esta, longe de se definir pela tolerância mútua, descansa na cooptação mais ou menos forçada do menos forte pelo mais forte.(idem).

A amabilidade de um povo resulta na praticidade da convivência, integração e fusão, assim, a vida floresce e renasce sob a forma da inter-relação entre os povos e sua gente, num processo de seleção natural, procriando, nascendo e prosperando uma nova identidade deste Ser singular e único no planeta terra, a Identidade de Povo brasileiro, construindo de forma natural e abstrata, normas de conduta justa, numa grande sociedade de homens livres, tendo como eixo e norte da nova Ordem Social, um novo socialismo vivo, atual, integrado e fundido.
                  No sofrimento e angustia do dia a dia, renova-se as esperanças de dias melhores, Na alegria e espontaneidade sobrepõe o sorriso, a ginga e a malícia. No trato entre os seus, surge à camaradagem com fraternidade e o jeito hospedeiro de ser. Na dificuldade e no desconforto emerge o sentimento da compreensão e união com as benesses do dividir e compartilhar o que se têm.

O sertanejo, por sua vez, também tem uma sociabilidade admirável presente nas festas populares e forma hoje uma importante massa de trabalhadores nos principais centros urbanos do país. Os caboclos especializados na floresta tropical são peça essencial para a sobrevivência da Amazônia e de possibilidades ecológicas interessantes para o mundo. No sul e em São Paulo gaúchos e imigrantes se integraram na unificação nacional também contribuindo com suas características sociais, intelectuais e culturais próprias e abrasileiradas. O caipira, por sua vez, foi essencial para a expansão do Brasil e em Minas Gerais criou a primeira sociedade burguesa e urbana brasileira. (FERREIRA apud Mota, 2005, p.301.)

                    Devido a diversos grupos de imigrantes, os brasileiros possuem uma rica diversidade de culturas, que sintetizam as diversas etnias que formam o povo brasileiro. Por essa razão, não existe uma cultura brasileira homogênea, e sim um mosaico de diferentes vertentes culturais que formam, juntas, a cultura brasileira. É notório que, após mais de três séculos de colonização portuguesa, a cultura brasileira é, majoritariamente, de raiz lusitana.
É justamente essa herança cultural lusa que compõe a cultura brasileira: são diferentes etnias, porém, todos falam a mesma língua (o português) e, quase todos, são cristãos, com largo predomínio de católicos. Esta igualidade lingüística e religiosa é um fato raro para uma cultura como a brasileira.
O conceito de nacional-popular não parece intrinsecamente vazio, ou contraditório. Como o queriam outrora Renan, à direita, e Gramsci, à esquerda, pode haver em tese - e provavelmente houve na história das "velhas" nações - união real, embora parcial, do nacional e do popular. Ou seja, pode haver consenso popular em torno de valores nacionais, e identidade nacional de quem participa desse conceito. Deve-se reconhecer que, no âmbito cívico-político, o Brasil de hoje destoa bastante desse tipo ideal do nacional-popular. O próprio êxito, relativo embora, do "discurso nacional" e das identidades nacionais outorgadas que ele fabrica, revela que ele se impõe - ou se impôs até o momento - num semi-vácuo. Ou, mais exatamente, devido à impossibilidade secular em que se encontrava a grande massa da população, de romper certos bloqueios históricos e de ter acesso numa ação coletiva autônoma, geradora de uma nova identidade nacional. Mas a idéia de que as massas são, no fundo, alheias à questão nacional (só lhes interessariam as identidades de classe, ou de base), e por isso mesmo superficialmente manipulável, esbarra em objeções. (CEREJA, (203, p.268).

Embora seja um país de colonização portuguesa, outros grupos étnicos deixaram influências profundas na cultura nacional, destacando-se os povos indígenas, os africanos, os italianos e os alemães. As influências indígenas e africanas deixaram marcas no âmbito da música, da culinária, no folclore e nas festas populares. É evidente que algumas regiões receberam maior contribuição desses povos: os estados do Norte têm forte influência das culturas indígenas, enquanto certas regiões do Nordeste têm uma cultura bastante africanizada.


No começo todos negros que viviam no Brasil eram escravos vindos da África. Eles tiveram filhos  que também foram escravos, porque era parte da cultura deles a escravidão quando alguém tinha divida, tendo menos resistência, e com isso os agricultores compravam eles para trabalhar nas lavouras, no inicio nos engenhos de cana de açúcar, depois em outros cultivos, como o café por exemplo. Para os agricultores era muito vantajoso, por ser uma mão de obra barata, e eles somente gastavam com alimento, e caso fossem desobedientes, seriam castigados severamente, as vezes, até de formas desumanas.
Alguns negros resistiam, e fugiam das fazendas dos seus donos, e formavam os quilombos, que eram comunidades grandes de negros, escondidos no meio da mata fechada. Veja o comentário em que é relatada a saga do marinheiro João Candido, negro e descontente com os maus tratos na marinha brasileira no inicio do século XX. Desse modo, este marinheiro se tornou símbolo da luta contra o racismo e o preconceito no Brasil, tendo em vista que mesmo correndo o risco de ser duramente punido ele não se calou, ao contrário construiu a sua história.

Depois de quatro dias de negociações e ameaças, as reivindicações dos marinheiros foram aceitas e o senado aprovou uma lei que anistiava os revoltosos. Alei não foi cumprida e os castigos corporais voltaram a ser instituídos. A anistia foi esquecida e os rebeldes oprimidos e duramente castigados. João Candido, conhecido como o Almirante Negro, foi preso e internado em um hospício como louco. (MOTA, 2005, p.336).

Assim como em outras áreas das ciências humanas, a história da escravidão no Brasil tem presenciado inúmeros debates. No início dos anos 60, a idéia de que as relações entre senhores e escravos haviam sido pautadas pelo paternalismo benevolente dos senhores e que esta característica havia dado origem a uma democracia racial no país foi duramente denunciada e questionada por pesquisas históricas e sociológicas de grande envergadura. Importantes do ponto de vista acadêmico e político, estas obras não apenas influenciaram todos os estudos posteriores sobre o tema, como também marcaram profundamente a formação de muitos militantes do movimento negro.
A Cabanagem foi uma revolta popular que aconteceu entre os anos de 1835 e 1840 na província do Grão-Pará (região norte do Brasil, atual estado do Pará). Recebeu este nome, pois grande parte dos revoltosos era formada por pessoas pobres que moravam em cabanas nas beiras dos rios da região. Estas pessoas eram chamadas de cabanos. Segundo (MOTA, 2005, p.244), a cabanagem foi um movimento de revolta popular que almejavam liberdade e justiça social.


No início do Período Regencial, a situação da população pobre do Grão-Pará era péssima. Mestiços, negros escravos, alforriados e índios viviam na miséria total. Sem trabalho e sem condições adequadas de vida, os cabanos sofriam em suas pobres cabanas às margens dos rios. Esta situação provocou o sentimento de abandono com relação ao governo central e ao mesmo tempo, muito revolta. Os comerciantes e fazendeiros da região também estavam descontentes, pois o governo regencial havia nomeado para a província um presidente que não agradava a elite local.
Embora por causas diferentes, os cabanos (índios e mestiços, na maioria) e os integrantes da elite local (comerciantes e fazendeiros) se uniram contra o governo regencial nesta revolta. O objetivo principal era a conquista da independência da província do Grão-Pará. Os cabanos pretendiam obter melhores condições de vida (trabalho, moradia, comida). Já os fazendeiros e comerciantes, que lideraram a revolta, pretendiam obter maior participação nas decisões administrativas e políticas da província.

Desse modo, percebemos que a etnia negra fez história no Brasil, é um grande erro na historiografia brasileira mostrar o negro sempre como passivo e escravo. Portanto, entendemos que a resistência do negro na nossa história aconteceu em varias partes do Brasil, claro que não iremos citar todas as revoltas, mas somente algumas com intuito de demonstrar que na historia dos negros houve aqueles que aceitaram e os que se rebelaram ainda que em troca de tal revolta perderam a vida em busca de um ideal.  

Conjuração Baiana, ou Conspiração dos Alfaiates, aconteceu em 1798, sob liderança do alfaiate João de Deus do Nascimento homens humildes, quase todos mulatos, foram movidos por uma mescla de republicanismo e ódio à desigualdade social e a miséria em que viviam dos 43 presos, quatro foram enforcados. O movimento envolveu indivíduos de setores urbanos e marginalizados na produção da riqueza colonial, que se revoltaram contra o sistema que lhes impedia perspectivas de ascensão social. O seu descontentamento voltava-se contra a elevada carga de impostos cobrada pela Coroa portuguesa e contra o sistema escravista colonial, o que tornava as suas reivindicações particularmente perturbadoras para as elites. A revolta resultou em um dos projetos mais radicais do período colonial, propondo idealmente uma nova sociedade igualitária e democrática. Foi barbaramente punida pela Coroa de Portugal. Este movimento, entretanto, deixou profundas marcas na sociedade soteropolitana, a ponto tal que o movimento emancipacionista eclodiu novamente, em 1821, culminando na guerra pela Independência da Bahia, concretizada em 2 de julho de 1823, formando parte da nação que emancipara-se a 7 de setembro do ano anterior, sob império de D. Pedro I. (MOTA, 2005, p.246).

Ressaltamos a importância de refletir sobre a resistência do negro no período do Brasil colonial, claro que o nosso tema é sobre a cultura negra e a formação do povo brasileiro, dai podemos dizer que a força do nosso povo, o espírito de luta, a vontade de vencer veio dos nossos antepassados negros que apesar do sofrimento não desistiam de lutar. Ainda sobre a resistência dos negros veremos o relato da revolta dos Malês na Bahia.
                                     Durante as primeiras décadas do século XIX várias rebeliões de escravos explodiram na província da Bahia. A mais importante delas foi a dos Malês, uma rebelião de caráter racial, contra a escravidão e a imposição da religião católica, que ocorreu em Salvador, em janeiro de 1835. Nessa época, a cidade de Salvador tinha cerca de metade de sua população composta por negros escravos ou libertos, das mais variadas culturas e procedências africanas, dentre as quais a islâmica, como os haussas e os nagôs. Em janeiro de 1835 um grupo de cerca de 1500 negros, liderados pelos muçulmanos Manuel Calafate, Aprígio, Pai Inácio, dentre outros, armou uma conspiração com o objetivo de libertar seus companheiros islâmicos e matar brancos e mulatos considerados traidores, marcada para estourar no dia 25 daquele mesmo mês. No confronto morreram sete integrantes das tropas oficiais e setenta do lado dos negros. Duzentos escravos foram levados aos tribunais. Suas condenações variaram entre a pena de morte, os trabalhos forçados, o degredo e os açoites, mas todos foram barbaramente torturados, alguns até a morte. Mais de quinhentos africanos foram expulsos do Brasil e levados de volta à África. (MOTA, 2005, p. 221).

Portanto, a situação dos negros em Salvador era peculiar. Muitos deles, cerca de metade da população da cidade, exerciam pequenos ofícios rentáveis: eram alfaiates, carpinteiros, vendedores ambulantes, acendedores de lampião. Esses trabalhadores deviam parte de seus ganhos a seus senhores e chegavam, em alguns casos, a comprar a liberdade. Entretanto, mesmo libertos, os negros eram tratados com desprezo e não tinham qualquer possibilidade de ascensão social. Esta situação levou-os a se revoltarem contra os dominadores brancos e seus subordinados mulatos.
                  Contudo, a mais importante dessas revoltas ocorreu em janeiro de 1835. Organizada por africanos de formação muçulmana, os Malês, a rebelião foi dizimada pelas tropas do governo, com o apoio das classes dominantes baianas. Muitos negros foram presos, torturados e mortos. Foram proibidos de circular à noite pelas ruas da capital e de praticar suas cerimônias religiosas típicas. Em síntese estas foram algumas histórias de força e resistência de grupos de negros que resistiram a escravidão, e nunca poderemos esquecer de Zumbir do Palmares, o negro que representa o símbolo da resistência negra no Brasil.





Ao concluir este trabalho de pesquisa acadêmica, podemos perceber a importância da pesquisa acadêmica como meio de resgate e preservação da memória local e basicamente a memória cultural e histórica do povo brasileiro.  A nossa pesquisa foi direcionada em analisar a formação cultural do povo brasileiro, dando ênfase a influencia da cultura afro na formação do nosso povo.
Portanto, no inicio da colonização, a sociedade brasileira era sumariamente rural e aristocrata e foi neste cenário social da casa-grande e da senzala é que se formaram as matrizes étnicas do Brasil. Percebemos também que a nossa cultura é múltipla e tem influencia de vários elementos, sendo os três principais grupos étnicos formado por: negros, brancos e índios os quais se configuraram na formação do povo brasileiro.
Em suma, entendemos que o elemento dominante na formação cultural foi o branco português, contudo, a cultura do negro foi bem mais resistente, o sangue do negro penetrou não só as veias do nosso povo, mas, adentrou em toda a cultura, incluindo ritmos, princípios, credos e valores. Desse modo, somos um povo de formação européia, porém temos uma alma africana.
Em síntese, os nossos documentos etnográficos dão pouca ênfase ao elemento negro na formação da nossa brasilidade, o que leva muitas pessoas a negarem as suas origem negra, muitos afirmam somente que  são morenos ou pardos, e isto remete a uma origem indígena e não africana, haja vista que a memória  do passado escravocrata tem sido esquecida em detrimento de uma cultura de imigrantes europeus, isto reflete a negação da nossa memória histórica.
Nesse sentido, a memória é um elemento presente nas sociedades e é carregado pelos grupos de homens e mulheres e fundamentam  sua identidade. A memória pode ser evocada por estes grupos de acordo com seus interesses, e por isso suscetível a manipulação. Também Pode ser esquecida, dependendo do local e do que ela traz a tona. É muito comum encontrar um silenciamento nas sociedades que virão de perto horrores da guerra, o esquecimento e o vazio de uma memória que se esconde na lembrança que luta pra ser esquecida.
No Brasil, podemos citar o exemplo do mito da democracia racial, que se tornou uma memória forjada por uma elite dominante, que manipulou  durante quase um século a historia de homens e mulheres negras, que apenas agora, por meio da luta dos movimentos sociais  tentativa de conquistar o  espaço e a inclusão social.  Em suma, a memória opera na esfera da lembrança e do esquecimento, de acordo com os interesses dos grupos sociais.
Assim, percebemos que a cultura dominante, tentou ao longo do tempo apagar a memória do passado colonial do nosso povo, de um lado a elite dominante almejava apagar da nossa historia o legado cultural da crueldade e da segregação racial que o processo escravocrata provocou na sociedade como um todo. Por outro lado, o inconsciente coletivo dos afros descendentes se esforçaram para apagar da memória  a sua historia, uma etapa de dor, sofrimento e humilhação.
Desse modo, entendemos que a historia continua sendo construída, tanto pela elite quanto pela população em geral, porem não se pode apagar a memória histórica  em detrimento de um futuro utópico, como por exemplo somos o “país das mulatas, do carnaval e do futebol”. Todavia, somos o país do futuro, porem não se pode esquecer que o futuro geralmente é planejado a partir da reconstrução da nossa memória, da nossa identidade social e cultural.
Refletir sobre a formação cultural do povo brasileiro foi uma ótima oportunidade de recriarmos o nosso legado cultural, repensado as nossas origens, analisando os erros e acertos do passado, e a partir desses parâmetros almejarmos, compreender quem somos e onde estamos e para onde vamos.  Portanto, compreendemos melhor o processo de miscigenação do povo brasileiro, assim como a sua cultura e o seu modo de ser. No Brasil geralmente se misturou de tudo um pouco, a cultura do europeu civilizado e cristão, se misturou com o índio selvagem  e impregnado de mitos e crenças.
Do lado africano tivemos o negro em sua totalidade, o trabalho, a habilidade e resistência, assim como as suas tradições, crenças e mitos. A cultura colonial foi um terreno fértil para a miscigenação no Brasil, de forma que as duas cultuaras dominadas ideologicamente encontrou nas relações sociais uma válvula de escape para resistir a imposição cultural do europeu: o trabalho, as relações afetivas e as crenças do negro e do índio foi o ponto de partida para o sincretismo  de credos e raças, a tão conhecida miscigenação.
Geralmente onde existe segregação racial sempre surgem formas de resistência, no Brasil, por exemplo, absorveram a cultura branca, afinal eram tribos de coletores e foram facilmente dominados. Porem, os negros africanos vindos da áfrica, já tinham uma cultura mais sólida, muitos eram reis, chefes de tribos, agricultores, pastores e etc. mediante tal elevação cultural houve uma penetração dos costumes africanos na sociedade brasileira, o exemplo disso são as benzedeiras que com suas rezas, simpatias e feitiços implantou uma fé arraigada de crenças do candomblé no imaginário social do povo brasileiro.
O Brasil colonial era uma terra inóspita onde se tinham pequenas vilas e grandes plantações de café, cana-de-açúcar e criação de gado, de modo que os objetivos dos colonizadores era apenas explorar a nova terra e retirar lucros para a coroa portuguesa, por isso, não havia investimentos em infra estrutura para a melhoria de vida da população, afinal as poucas pessoas que aqui residiam e eram consideradas cidadãs eram brancos, católicos e evidentemente portugueses.
A religião africana foi a base a base cultural d resistência dos negros, apesar da proibição que lhes foram impostas, os negros disfarçadamente conseguiram mascarar os seus orixás com elementos  co catolicismo, afinal, a coroa portuguesa tinha a plena consciência de que para dominar  um povo é necessário alem do uso da força política, precisaria conseqüentemente  impor a sua cultura.
Hoje, apesar das injustiças sociais somos um país que existe liberdade de expressão, apesar de ainda existir grande parte da população a qual vive na pobreza extrema e infelizmente essa pobreza tem etnia e classe social, geralmente são negros ou afro descentes e mulheres e etc. os quais continuam morando em viadutos, favelas, pontes e etc., de modo que tal exclusão vem-se arrastando desde o fim da monarquia petrina no Brasil, em sua obra, Casa-grande e Senzala, Gilberto freire não relatou a questão da pobreza e do preconceito, talvez este é o leque que faltou para completar  a obra.
O incrível é que 123 anos se passaram desde que lei áurea  promulgada pela então Princesa Isabel, varias gerações se passaram e a maioria  dos descendentes de escravos não conseguiram  se emancipar enquanto cidadão brasileiro, isto porque ao longo de todo este tempo não houve por parte do estado nenhuma política de inclusão social do negro na sociedade. O estado brasileiro demonstrou total indiferença em relação às desigualdades sociais existentes nesse país.
Somente no inicio do século XXI é que se teve inicio a uma política  de inclusão social como por exemplo, as cotas nas universidades para negros, índios e afro descendentes, sendo este esforço uma tentativa de consolidar a inclusão de todos os brasileiros na universidade, mas será que este é o caminho? Pensemos, será que o Brasil decidiu tarde demais? Em síntese, estamos tentando fazer um breve relato sobre este tema tão rico e tão vasto que é a cultura africana e suas respectivas influencias, mas, diga-se de passagem, que o desprezo pelo tema é tão grande que o aluno pensa dez vezes se Vale apena trabalhar o referido assunto.
Em suma, falar sobre a nossa formação cultural desperta no pesquisador um sentimento patriótico, afinal estamos mexendo no passado de todos os brasileiros, atualmente ousamos afirmar que 60% da população do Brasil é de origem negra e quando estamos refletindo sobre  o mesmo estamos reconstruindo a nossa memória histórica. Mesmo sabendo que o preconceito é algo real  no Brasil é hora de todos os brasileiros que são conscientes da nossa brasilidade, principalmente os educadores se incumbiram de formar cidadãos sensibilizados em combater o preconceito e a exclusão racial, afinal consciência em relação ao problema todos nós temos, o que falta é a sensibilidade de tentarmos combater o racismo em suas raízes.
No Brasil existem alguns protótipos em relação ao negro deve ser combatido, como por exemplo, as profissões como cozinheiro, babá, porteiro, lixeiro, coveiro e etc. infelizmente isto ainda é mantido principalmente pela mídia nacional, basta refletirmos um pouco, e veremos que o numero de jornalistas e atores negros são reduzidos e jamais aparecem como protagonistas de um filme ou novelas é comum ver o negro na mídia brasileira trabalhando como empregada doméstica, nunca como patrão, quando faz um papel , aparecem fazendo palhaçada, ou seja, o negro, o pobre em geral as vezes é mostrada na mídia como o bobo da corte.
Os tempos passaram e as formas de segregar o outro muda de estilo, mas o foco continua antes o preconceito, violência, era praticado na casa-grande, nas senzalas e nos canaviais, hoje, o preconceito acontece é na TV, na sala de aula, na internet, nas passarelas de moda,em suma, são nestes novos cenários que o negro ainda é excluído inclusive dos grandes grupos midiáticos do Brasil . Alias seremos obrigados a pensar na necessidade de se ter uma mídia negra somente para negros como é o caso dos Estados Unidos, às vezes para ser aceito em determinado grupo é preciso se impor culturalmente.
Em síntese, os negros ou pardos, brancos ou índios e mulatos somos o resumo da nossa histórica miscigenação, da mistura de credos e raças e somos todos protagonistas do futuro, no campo ou na cidade, na favela ou nos condomínios, somos impelido a lutar por um Brasil mais justo e igualdade para todos, afinal somos brasileiros, lutemos, vamos a luta, pra frente sem esquecer a nossa memória e valorizar sempre o nosso passado.











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 [N1]O Brasil é um país democrático, mas pouco tolerante em relação às religiões de matriz africana, o neopentecostalismo muitas vezes irracional provoca uma cultura do preconceito religioso em nome de uma verdade eurocêntrica.


 [N2]A nação brasileira por  exemplo, teve uma formação cultural pautada na religiosidade tanto cristã quanto africana e ameríndia. Assim se configurou a nossa identidade brasileira, de modo que quanto mais entendermos a cultura  afro, melhor será a compreensão do povo brasileiro.


 [N3]Aqui em Alcobaça-ba, existe uma comunidade Quilombola que todos os anos no mês de janeiro tem-se inicio o reisado do “boi de janeiro”. Uma manifestação de origem portuguesa que é praticada por este grupo de pessoas há mais de 150 anos. Desde os tempos da colônia que este grupo organiza tal festividade. Tem alguns personagens responsáveis pela festa que vale destacar. Benedito de Zabé; João do Bar; Damião de Bó e etc...


 [N4]O brasileiro é muito crente no sobrenatural, é muito comum os valores da religiosidade africana no cotidiano do nosso povo: mau olhado, encostos, feitiço, despachos e etc.
Os nossos costumes, como o modo de vestir, comer, se divertir e falar estão repletos de africanidades.


 [N5]Hoje 53% da população brasileira se auto declaram negros ou pardos, de modo que a raça negra predomina em quantidade, mas ainda não é predominante na economia, na politica e nos meios de cultura de massa.


 [N6]O Gilberto apesar de ter contribuído com a sua obra sobre a formação do povo brasileiro,, percebemos que ao comentar sobre a miscigenação, o autor tem um certo preconceito em relação ao contato de brancos e negros, isto é fruto  da visão eurocêntrica de superioridade da raça branca.


 [N7]A cidade de Alcobaça nasce e sobrevive do processo da escravatura eram muitas as fazendas que produziam farinha, cachaça e etc, tudo com o braço dos pretos e pardos escravos: Fazenda Serrinha, Fazenda Nova Jerusálem, Fazenda Cascata e Fazenda Angelim, vale ressaltar que estas fazendas pertenciam a uma única família dominante no século XIX em Alcobaça.


 [N8]Na fazenda Lagoa Encantada existe uma história muito bonita, de uma escrava que foi comprada em Caravelas por um saco de farinha de tapioca, por isso, o seu nome era Maria tapioca, o seu dono apaixonou-se por maria e teve três filhos com esta escrava, de modo que segundo um dos descendentes do patrão, Maria era tão amada pelo seu senhor que acabou a escravidão e ela continuou morando na fazenda com o seu amo. Até hoje existe na comunidade do Portela os descendentes desta escrava que são parentes dos Medeiros de Almeida.


 [N9]Nas mediações do Cachangá existia uma fazenda, cuja proprietária era “Chiquinha Lora”, esta senhora queimava as crianças negras que nasciam, jogavam na fornalha dos fornos de farinha, conta-se a lenda que o seu marido tinha um caso com uma das escravas, por isso, ela tinha tanto ódio das crianças que nasciam..


 [N10]Viva a nossa eterna Maria tapioca, que teve três filhos com um Medeiros de Almeida.


 [N11] Na fazenda Jerusalém, tinha um homem escravo chamado João Boca de Fogo, ele era carpinteiro, pedreiro e ferreiro, era um homem muito bondoso e construiu as “bolandeiras da região”, uma máquina a tração animal usada para ralar mandioca e torrar farinha. 


 [N12]Em Alcobaça existem muitas comunidades que veneram São Benedito, existem muitos núcleos que tiveram origem após a abolição: comunidade do Itaitinga, Apaga Fogo, comunidade do Pinheiro, Canta Galo entre outras.


 [N13]O samba de Coro que é uma dança típica dos negros da região está morrendo, somente os mais velhos que ainda sabem o que é. Outra tradição é a Ladainha de Nossa Senhora que é rezada em latim, por pessoas analfabetas, rezam apenas por devoção, mas não sabem o significado, este é um costume meramente das comunidades negras da região de Alcobaça-Ba

Aprendizagem Estratégica e Desenvolvimento Profissional - Trabalho - Mestrado em Educação- Funiber- 2023

FUNDAMENTOS TEÓRICOS EM EDUCAÇÃO . Aprendizagem Estratégica e Desenvolvimento Profissional -  Trabalho FP102 – Aprendizagem estratégica e...